Verdade ou mentira? ᐅ esclareça 5 mitos comuns sobre corrida

por Abe Ankers, Cientista do Esporte
Correr parece a coisa mais simples do mundo: colocar um pé na frente do outro com velocidade. Mas, para quem a corrida ainda não “entrou no sangue”, nem sempre é tão simples assim. Quem corre precisa fazer treino de força? É saudável correr quando está frio? Abe Ankers, cientista do esporte, vai desmistificar 5 ideias equivocadas e recorrentes sobre a corrida.
1. “Quem treina força fica lento, com o corpo pesado”
Na boa: nada a ver. Os melhores atletas do mundo passam 10% do tempo dedicado ao treinamento fazendo musculação, e por um ótimo motivo.(1, 2) Treinos de força aprimoram a economia de corrida em até 8%, além de melhorar a resistência muscular, flexibilidade e postura.(3) Quem corre deveria também fazer treinos de força para a parte superior do corpo.
2. ““sou/estou XXX demais para correr” (insira seu adjetivo no XXX)
Quando a gente pensa em “corredores”, logo vem à cabeça aquele corpo magro, esguio, de corredor de elite. Mas é hora de ganhar perspectiva: atletas olímpicos equivalem a menos de 0,0001% da população mundial. Para a maioria de nós — pessoas altas, baixas, gordas, magras, jovens, não tão jovens — o corpo foi feito para correr, e não para passar o dia sentado, seja no escritório ou em casa.
Exemplo da vida real: na Inglaterra, o comediante Eddie Izzard (que pode nem ser muito conhecido por quem fala português, mas é super conhecido internacionalmente por seus shows de “stand-up comedy” em inglês) tem pés chatos e propensão ao ganho de peso. Só de olhar para ele, ninguém imagina que trata-se de um verdadeiro atleta da corrida. Ora, nada de julgar pelas aparências! Recentemente, ele completou 27 maratonas em… 27 dias! Em 2020, ele fez 58 anos e, neste ano, quer correr 28 maratonas. Nas palavras de Eddie: “Se eu consigo correr 42km todos os dias, todo mundo consegue.”
3. “Sempre se alongue antes de correr”
Se alongue, mas NADA DE ALONGAMENTO ESTÁTICO! Alongamento estático é manter um músculo em posição alongada por certo tempo. Use o que estiver ao seu alcance para se alongar: os postes na rua, movimentos com o próprio corpo… mas faça sempre alongamento dinâmico! O embasamento é claro: o alongamento estático não reduz o risco de lesões e pode piorar o desempenho.(4)
Se quiser soltar as articulações e melhorar a flexibilidade antes de correr, o único jeito é incorporar alongamentos dinâmicos na rotina de aquecimento. Os alongamentos dinâmicos garantem que os músculos sejam “esticados” de forma ativa, utilizando toda a gama de movimento. Alongamentos dinâmicos como “pêndulo frontal e lateral” ou “afundos laterais” ajudam a aumentar a temperatura do corpo e aumentar o fluxo sanguíneo direcionado aos músculos. Isso ajuda na preparação para a corrida e reduz o risco de lesões.
4. “Não corra no frio”
Todo mundo já ouviu falar que correr no frio deixa a pessoa resfriada. Por um lado, é verdade que a incidência de algumas doenças aumenta no inverno. Por outro lado, sabia que o vírus do resfriado se espalha mais em ambientes fechados do que ao ar livre, mesmo no frio?
Ficar em locais cheios de gente e com janelas e portas fechadas é uma péssima ideia. Praticar exercícios físicos com regularidade e em intensidade moderada reforça o sistema imunológico, ajudando a lidar com os resfriados.
Correr também é ótimo para afugentar aquela sensação de preguiça (ou, para alguns, até uma melancolia!) que o frio traz. Isso tem nome, aliás: é o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS ou SAD, em inglês). Assim, quando o frio der as caras, fuja do TAS e, de quebra, queime calorias!
5. “Sem dor, sem ganho”
Todos precisamos de ajuda para sair do sofá. O mantra sem dor, sem ganho pode parecer perfeito para motivar, mas nem sempre é o caso. Décadas de pesquisa indicam que os atletas mais bem-sucedidos no quesito “resistência” passam mais de 80% do tempo de treinamento na “zona verde”, ou seja, correndo em intensidade baixa e confortável.(5)(6)
Assim, da próxima vez que você estiver correndo ladeira acima, não se sinta pressionado a manter o pace até quase ter um treco! Pegue leve: tudo bem caminhar — ninguém está julgando. Dr. Stephan Seiler, psicólogo do esporte, afirma que:
“Quando desaceleramos na maioria dos dias, ficamos com energia suficiente para treinar pesado em alguns dias. Assim, o desempenho melhora cada vez mais, e o processo é mais gostoso e sustentável”.
Que dica bacana, não? Às vezes, menos é mais.
Resumindo:
Correr é uma estratégia ideal para ficar em forma, perder peso, prevenir contra doenças, melhorar a saúde mental e prolongar a vida. É uma atividade simples, orgânica: para que transformá-la em algo polêmico e confuso? O objetivo de qualquer treino é manter a pessoa motivada, energizada e sem lesões.
Lembre-se de manter uma dieta saudável. Ter dias de descanso e tempo suficiente para se recuperar é FUN-DA-MEN-TAL! Pronto, mitos exterminados. Chega de desculpas e… bora correr!
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