Alimentação intuitiva ᐅ Aprenda a ouvir o corpo

Prato com iogurte e mel

Imagine um mundo no qual você pudesse esquecer das dietas, nem pensar em contar calorias e, ainda assim, conseguisse manter sempre o peso ideal, saudável: praticando a alimentação intuitiva, esse mundo existe! Coma o que quiser, sem regras ou alimentos proibidos! Tudo é questão de ter consciência na hora de comer e ouvir o corpo: a satisfação bateu? Então, pare de comer.

O que é alimentação intuitiva?

Use sua intuição para tudo na vida, inclusive na hora de comer. Seu corpo é seu melhor amigo: ouça os sinais que ele emite! Alimentação nutritiva tem a ver com autocuidado, ser gentil consigo. E, não, não é “blá-blá-blá”. O conceito de alimentação intuitiva foi proposto em 1995 por duas nutricionistas da Califórnia: Evelyn Tribole e Elyse Resch.

Todos os seres humanos praticam alimentação intuitiva a partir do momento em que nascem. Pense no exemplo dos bebês e nas crianças bem pequenas: se alimentam até atingirem a saciedade e depois param. A quantidade e tamanho das porções varia quase que dia após dia: ontem, repetiram o almoço, mas hoje não passaram de umas poucas colheradas.

A questão é que, conforme vamos crescendo, pensamos menos em comida, em alimentação. Afinal, na infância, aprendemos que “só ganha sobremesa quem come tudo”, e também que há alimentos bons e ruins. E qual é o resultado deste tipo de condicionamento? Quando comemos “bons” alimentos, nos sentimos bem. Sentimos orgulho. Merecemos um parabéns! Mas, se optamos por alimentos “ruins”, nos sentimos mal.

O objetivo da alimentação intuitiva é mudar a forma como pensamos sobre comida, e o processo de aprendizagem pode ser longo. A alimentação intuitiva não é uma dieta: na verdade, é o oposto. Esqueça contar calorias, controlar macronutrientes e plano alimentar: todos os alimentos são permitidos!

Se você conseguir se alimentar com base no que sente como necessário, aprenderá a entrar em sintonia com os sinais que o corpo emite. Coma quando tiver fome e pare quando sentir saciedade. Aos poucos, você perceberá do que o corpo precisa. Às vezes, ele precisará de salada. Outras vezes, será de um pedaço de bolo de chocolate. E, tudo bem: sem culpa!

Benefícios da alimentação intuitiva

Atualmente, há mais de 100 estudos que documentam os benefícios da alimentação intuitiva. Entre eles, temos:

  • Mais autoconfiança
  • Imagem corporal mais saudável
  • Mais bem-estar
  • Impacto positivo na saúde mental
  • Menor incidência de transtornos alimentares
  • Nível mais elevado de colesterol “bom” (HDL)
  • Redução nos triglicerídeos

Aprenda a ouvir o corpo

Você anda usando um aplicativo para contar calorias, ou já tentou um milhão de dietas diferentes? Quando a proposta é justamente a suspensão de todas as regras e limites, podemos ficar meio “perdidos”. Neste momento, só há uma poderosa (porém abafada) voz que pode nos guiar: ouvir o próprio corpo! Se pergunte: “Do que eu preciso, agora?” Para criar o hábito e entender os sinais, é preciso praticar rotineiramente essa esquecida escuta.

Os 10 princípios da alimentação intuitiva

Evelyn Tribole e Elyse Resch explicam os 10 princípios da alimentação intuitiva no livro Intuitive Eating: A Revolutionary Program that Works. (“Alimentação Intuitiva: Um Programa Revolucionário que Funciona”, em tradução livre). Confira abaixo!

1. Rejeitar a mentalidade de dieta

Pensando no passar dos anos, as dietas estão condenadas ao fracasso. Afinal, não podem ser consideradas solução de longo prazo para quem quer manter um peso saudável. Na verdade, muitas dietas fazem o efeito oposto: causam ganho de peso, desejos alimentares e sensação de culpa ou de fracasso quando não se alcança o peso idealizado.(1) Assim, a alimentação intuitiva se baseia no princípio de que as dietas simplesmente não funcionam.

2. Honrar a fome

A fome não é o inimigo. Na verdade, a sensação de fome surge no corpo para protegê-lo contra a inanição. Biologicamente, é questão de sobrevivência! Quem nunca ouviu conselhos como: “se a fome bater, busque mudar o foco e não pensar nela”, ou, “em vez de comer, tome um copo d’água bem grande”? Esqueça tudo isso! Deu fome? Então coma. Não importa se faz 1h que você comeu ou 4h ou 10h.

Sinais de fome:

  • Estômago roncando
  • Fadiga
  • Tremedeira
  • Falta de concentração
  • Inquietude
  • Oscilação de humor

3. reconciliar-se com a comida

Pare de julgar os alimentos como sendo “bons” ou “ruins”. Tudo é permitido. Quem come com consciência, come o que quer. Pense nos sabores. Pense em como se sente após cada refeição.

Se pergunte:

  1. Estava gostoso?
  2. Estou satisfeito?
  3. Como meu corpo se sente após esta refeição?

Você verá que, com a prática, a alimentação intuitiva fica bem mais fácil e agradável. Experimente!

4. Desafiar a “polícia” da comida

Quem quer comer de forma consciente precisará derrotar esse policiamento alimentar. E, mais do que a opinião alheia, este policiamento tem a ver com julgamentos que nós mesmos fazemos sobre os alimentos: nos sentimos bem após comer certos alimentos, e mal-estar após consumir outros. Quando começar a embarcar no caminho do julgamento e da culpa, perceba o pensamento julgador e corte ele na raiz. Xô, culpa!

5. Descobrir a satisfação

O objetivo de comer não é se empanturrar. Os alimentos devem nos satisfazer e causar felicidade. Quando for comer, sente-se e use todos os sentidos. Mergulhe na experiência!

6. Perceber a saciedade

Quem aprende a conhecer os sinais do corpo, aprende a reconhecer a saciedade. Coma devagar: assim, você saberá quando comeu o bastante. Sobrou comida no prato? Sem problemas. Guarde as sobras e coma mais tarde. Nada de se forçar a comer tudo.

Sinais de saciedade

  • Sentir-se agradavelmente saciado
  • Desaparecimento dos sinais de fome
  • Redução no apetite
  • Fadiga

7. Ser gentil com as próprias emoções

O que você faz quando bate o estresse ou a tristeza? Cai dentro de uma barra de chocolate? Bem, não há nada errado em sentir tristeza, ansiedade, raiva ou solidão. Muita gente usa a comida para se sentir melhor.(2) Entretanto, vale ter em mente que comer não resolve os problemas que causam tais sentimentos. Assim, encontre outras formas de lidar com eles.

Que tal uma caminhada bem longa? Uma sessão de yoga? Ter um diário de mindfulness também é uma boa ideia. Há outras formas de voltar a se sentir bem além do consolo oferecido pelas barras de chocolate.

8. Respeitar o corpo

Sinceridade para consigo mesmo é a base da felicidade. Aceite seu corpo. Aprenda a se amar. Ter este tipo de atitude é o princípio mais importante da alimentação intuitiva.

9. Sentir a diferença que os movimentos proporcionam

Em vez de ficar tentando identificar quais exercícios queimam mais calorias, reflita sobre qual atividade é a mais divertida e faz você se sentir mais feliz. Não importa se é  correr, dançar, andar de bicicleta ou treinos com peso corporal. Se você identificar esta atividade física e continuar praticando, não largará nunca mais.

10. Honrar a saúde: nutrição sem disrupção

Escolha alimentos que fazem bem para a saúde, que sejam saborosos e que façam você se sentir bem. Nem sempre é preciso se alimentar com perfeição para ser saudável. Nenhum alimento causa doenças se você consumi-lo ocasionalmente. O progresso é o foco.

Lição para levar pra vida

A alimentação intuitiva não é uma dieta ou plano nutricional. Comer de forma consciente não significa sentir culpa ou não ter regras: a ideia é entrar em sintonia com o corpo e se cuidar! Ninguém se conhece melhor que você: você é a perfeição sobre pernas! Não existe ninguém melhor que você para saber do que você precisa para se sentir bem.

E aí? Bora aposentar essas dietas radicais? Passe a conhecer bem o seu corpo e se guie por você. Confie na sua intuição!

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Julia Denner Apaixonada por culinária e atividades ao ar livre, Julia pratica musculação e faz yoga para relaxar. Sua missão como dietista é inspirar e ajudar os outros a desenvolverem hábitos alimentares saudáveis. Ver todos os artigos de Julia Denner