Skyrunning: como voltar a correr após lesões na corrida?

Holly Page com uma ferida na testa após se lesionar durante uma prova de corrida

Por Holly Page, atleta da adidas Terrex

Todo mundo que corre já tropeçou, caiu ou se acidentou nas pistas. Mas, para quem pratica skyrunning (esporte de montanha que envolve corridas em altitudes superiores a 2000 metros e inclinação de 30% ou mais) tropeçar em uma pedra, só enxergar um galho quando ele bate no seu rosto ou escorregar feio em um declive coberto de lama são riscos bem frequentes.

Estes pequenos acidentes são quase um risco ocupacional: faz parte da vida da galera do corre. Entretanto, um corredor off-road reconhece facilmente seus pares: basta conferir as cicatrizes que decoram as pernas dos atletas da natureza.

Tenho 20 anos de corrida nas montanhas para contar: como atleta especializada em skyrunning, já me acidentei várias vezes. Vira e mexe, me pergunto se não chega de lesões, cicatrizes e marcas na pele conquistadas na batalha das pistas acidentadas. Quando morei na França, meus amigos me deram o apelido de Madame Catastrophe (Madame Catástrofe) — apelido ao qual continuo a fazer juz.

As cicatrizes contam histórias 

Cada cicatriz tem uma história para contar:

  • “Ah, essa aqui foi quando uma pedra ficou encravada no meu braço na vez que caí em um declive durante uma prova”.
  • “Esta é dos pontos que levei no joelho quando caí naquela descida bizarra da prova Scottish Champs”.
  • “Esta cicatriz eu ganhei na África, quando tropecei em uma pedra enquanto corria debaixo de uma tempestade congelante no Mount Kenya.”
  • “Vish! Essa foi de quando achei que tinha quebrado a perna em uma prova de skyrunning em Andorra”.
  • Esta linha na minha canela foi de quando levei cinco pontos após perder uma batalha contra uma pedra.”
  • “Ah, sim, essa aqui é um pouco estranha mesmo: é um calombo grande que eu ganhei quando colidi contra umas plantas espinhentas nos Azores enquanto atravessava a floresta como um javali selvagem na prova Golden Trails Championships”…

Atleta recebendo cuidados após um ferimento na corrida

Estratégias mentais

Em 2017, sofri um acidente que poderia ter sido meu último, pois foi quase fatal: foi em uma geleira na parte inferior do Mont Blanc. Escorreguei e fui descendo descontroladamente. Não conseguia atrito com o machado para me frear. Só parei mesmo quando colidi contra uns pedregulhos a toda velocidade. Nisso, rasguei o Ligamento Colateral Médio, sofri cortes e machucados. Dali, me mandaram direto de volta para o Reino Unido em uma cadeira de rodas. Entretanto, dali a alguns meses após a lesão, voltei a correr. Mas, sendo sincera, este tipo de acidente pode realmente confundir a mente de qualquer corredor.

Eu adorava correr em descidas. Conhecendo minha técnica e meu corpo, sabia que podia ganhar muito tempo em uma prova sempre que havia um declive técnico no percurso. Entretanto, o acúmulo de acidentes ao longo dos anos começou a abalar minha autoconfiança. Minhas cicatrizes são lembretes das consequências dolorosas de cair e me acidentar nas corridas. Assim, em vez de ir com tudo descida abaixo, comecei a questionar os riscos.

Mas a única forma de superar o medo é realmente se colocar de volta nas situações que você teme. Desde o acidente que sofri em Mont Blanc, vivo com medo de escorregar e cair descontroladamente. Sinto ondas de medo tomando meu corpo inteiro após cada escorregão. No entanto, dali a um ano, venci uma prova grande que incluia um aclive e um declive de 4554 m em uma geleira da Itália! Sim, morri de medo. Mas fui lá e fiz.

Busque alternativas

Acredito muito em lemas do tipo “a vida é curta demais: aproveite enquanto dura”. Vivo segundo esta mentalidade, buscando sempre destacar os pontos positivos.

Enquanto estava no topo da minha forma física, quebrei meu pé algumas vezes. Sim, é muito frustrante não conseguir correr quando se fez tanto esforço para estar em forma. Mas, em fez de ficar chorando o leite derramado e sofrendo por planos cancelados, resolvi me adaptar e fazer algo diferente. Por exemplo: quando estava com o pé quebrado, em vez de correr em uma prova mundial no Japão, amarrei um saco de corrida na minha bicicleta de estrada e passeei pelo Japão todo. E, em vez de completar uma prova no Nepal, fiz trilhas de trekking na modalidade mountain biking (acredite, é mais fácil falar do que fazer quando não se entende nada sobre pedalar em montanhas, como era o meu caso).

Ano passado, estava em uma prova em Zermatt quando bati a cabeça em uma pedra enquanto subia uma cordilheira. Escorria sangue pelo meu rosto e me senti super mal, mas continuei na prova por mais 1h até os organizadores me tirarem da prova e me fazerem descer em um helicóptero. A concussão durou por alguns dias, mas minhas pernas estavam ótimas! Por isso, decidi participar de outra prova em Chamonix dali a alguns dias. Mas, confesso: no quesito “buscar alternativas”, pode ter sido uma opção extrema.

Holly Page com mais uma cicatriz após corrida

Respeite seu tempo, pense positivo e continue saindo. Rua!

Não importa o tipo de corrida que você pratica: skyrunning, corrida em trilhas ou na rua: lesões e acidentes acontecem e vão fazer você parar de correr por um tempo. Mas, basta se cuidar: com o tratamento correto e, logo logo, você vai poder cair dentro novamente do esporte do seu coração!

O mais importante é não ter medo de dar um tempo, fazer uma pausa para se curar e, assim, poder voltar a correr após uma lesão. Tente desligar completamente a mente da corrida, pois isso ajuda a dar um “reset” na mente e no corpo. Sim, você vai ficar um pouco fora de forma. Mas não é o fim do mundo. O importante é ver o cenário amplo, o “longo prazo”. Quem gosta mesmo de correr sabe como é importante evitar lesões por supercompensação (overtraining).

Às vezes, vale MUITO a pena dar um passo atrás e fazer coisas diferentes. Dica: dê uma pausa nas redes sociais. Ninguém merece ver seus contatos super felizes correndo enquanto está de molho em casa, se recuperando. Lembre que correr traz benefícios não só para a saúde física, mas também para a saúde mental. Mesmo se não der para correr, caminhe. Não dá? Fique de pé do lado de fora de casa. Só isso já dá um levante no astral!

Há alguns meses, fiquei internada em um leito de hospital recebendo medicamento intravenoso por uma semana, em um quarto abafado, com uma janela que não servia pra muita coisa. Pois bem: dei meu jeito de abrir a janela e enfiar uma cadeira ali, porque é importante tomar ar fresco!

E eu não quero soar como a rainha do otimismo, não: sendo bem sincera, lesões e acidentes são uma chatice sem tamanho. Mas a vida tem seus pontos baixos, então o jeito é colocar as coisas em perspectiva, focar nos pontos positivos e lembrar que sempre tem alguém em uma situação pior. Com algum otimismo e distração, o tempo passa. Com negatividade, ele se arrasta.

Repito: foco nos pontos positivos e, quando você mesmo perceber, já será possível voltar a correr após lesões e acidentes!

Sobre a autora:

holly page adidas terrex

Holly Page é atleta profissional da adidas Terrex e uma das melhores corredoras em trilha do mundo. Criada no norte da Inglaterra, Holly corre em montanhas desde a infância e, atualmente, está sempre explorando novos lugares e competindo em provas de alto nível mundo afora.

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